Na
Fazenda Recanto, localizada no Município de Ichu, surgiu uma devoção
a um dos santos mais populares do Brasil: Santo Antônio
de Pádua. Esta devoção já perpassou por várias gerações e
continua viva na família de Maria José e Hildebrando.
Foi
o senhor Antônio
Verício que começou a devoção na Fazenda Recanto, após seu
falecimento seu filho Antônio
Timóteo continuou a celebrar a trezena na mesma fazenda. Por volta
da década de 60 a trezena passou para as mãos da sua filha senhora
Francisca Domingas Carneiro, conhecida como Chiquinha do Recanto e
seu esposo Manuel Nascimento conhecido como Manezinho do Recanto.
Estes, tinham 4 filhos: Primitivo, Josefa, João e Joana. Esta
família continuou a louvar Santo Antônio
que lhe trouxe bençãos e alegrias.
As
noites das rezas eram muito animadas, onde reuniam todos da
comunidade e da vizinhança
para bendizer e glorificar Santo Antônio.
Após, a reza as pessoas se animavam na fogueira, cantavam cantigas
de roda. O último dia, começava com fogos soltados pela manhã, ao
meio-dia e a noite, e a família com vizinhos e amigos preparavam a
noite festiva com muito entusiasmo. Cada pessoa tinha sua obrigação
os homens amarravam os foguetes nas flechas feito pelo senhor
Anatanael e seu filho Odilon, da Lagoa do Meio, as mulheres Dona
Nascimenta, tomava conta do café, Dona Libânia limpava terreiros,
prepara o carneiro para o almoço e bolos, mas não podia faltar o
tradicional bolo de milho feito por Dona Romana Alegre, da Fazenda
Flor Roxa. Os altares eram todos os anos arrumados com flores de
papel feito por Luzia Marcelina Carneiro, neta de Manezinho do
Recanto, segundo ela passava meses fazendo flores de papel crepom
para a arrumação do altar e as flores mais bonitas eram
cuidadosamente guardadas para o ultimo dia da trezena. Manezinho do
Recanto, reservava um boi para as despesas das noites de rezas. Cada
noite de reza tinha uma família responsável que era chamada
mordomo. Na ultima noite havia leilão dos objetos e animais doados
em benefício da trezena, após o leilão todos se reuniam para
apreciar a tradicional queima
de fogos chegando a cerca de 60 dúzias de foguetes, soltados por
Manuel de Acelino, Rosalvo seu irmão, Cosme do canto Alto, Nito do
Consolo, Primitivo, Manezinho do Recanto e outros o céu brilhava
como estrelas irradiando alegria e a devoção do povo católico do
Recanto. Que maravilha!
No
ano de 1976, a senhora Chiquinha do Recanto faleceu e seu esposo
Manezinho do Recanto, passou a morar com seu filho Primitivo que já
estava casado com Josefina Carneiro, filha João Padre. Ficou para
este casal a responsabilidade
da devoção das trezenas, agora na Fazenda Massapê, onde o casal
morava juntamente com seus 07 filhos: Mariquita, João Napununceno,
Pedro, Bernadete, Mercês, Antônio
(este falecido em 2008) e Maria José.
Toda
a família reunida com laços de estima e união louvavam a Santo
Antônio.
As rezas eram celebradas todas as noites do dia 01 de junho ao dia
13, dia dedicado ao Santo. O local das rezas tinha dois altares um de
frente a entrada da sala que foi trazido da Fazenda Recanto e outro
do lado esquerdo feito pelo senhor Primitivo, que já rezava a
trezena
em intenção a seu filho que se chamava Antônio.
Os altares eram arrumados com muito carinho e dedicação e as
trezenas eram celebradas com muita alegria onde toda a família se
reunia com pessoas da comunidade para rezar e glorificar Santo
Antônio.
Assim, a devoção permaneceu firme e forte na mesma fé e não
deixando morrer a tão bela tradição.
No
ano de 1979, Manezinho do Recanto faleceu. A família de Primitivo
foi crescendo seus filhos se casaram e passaram a morar perto da
fazenda Massapê ou na cidade de Ichu, mas, durante os dias de rezas
estavam todos sempre reunidos com seus filhos e amigos. Estes, antes
e depois das rezas cantavam cantigas de roda, brincavam no terreiro
animando as noites. A devoção continuou perseverante e fiel a
tradição antiga. Para as despesas da festa as doações continuavam
e foi acrescentado uma poupança para garantir os festejos, na ultima
noite não faltava o tradicional leilão, bolo, brincadeiras,
fogueira e o café na panela para que todos fossem servidos
fartamente.
Na
década de 80, Primitivo veio morar na cidade de Ichu com sua esposa.
Sua sua filha Maria José continuou morando na Fazenda Massapê com
sua família, embora, todos os anos no período da trezena Primitivo
e Josefina se mudavam para o Massapê a fim de continuar sua tão
querida devoção.
Assim,
se passaram muitos anos, mas em 1993 Josefina Carneiro, faleceu
porém, ficou a certeza e a esperança de que a devoção não iria
se acaba. Nesta atitude de respeito a tradição e a Santo Antônio
as trezenas continuaram, agora sobre a responsabilidade de Primitivo
e de sua filha Maria José.
Em
1993, sobre o desejo do senhor Primitivo foi construída
uma capela na Fazenda e fui para lá que se destinou as rezas em
louvor a Santo Antônio
e as missas da comunidade.
No
ano de 2004, Primitivo morreu, mas, como diz a frase do Papa João
Paulo II “a família que reza unida, permanece unida” e o forte
laços de amor que se criou a devoção de Santo Antônio
não acabou ai, ela continuou com sua filha Maria José e seu esposo
Hildebrando já pertencente a quinta geração. Hoje, a família de
Maria José mora na cidade de Ichu e o Recanto se transferiu
para aqui na sua casa, não perdendo o calor da devoção, a união
familiar acontece todas as noites a trezena com a certeza de nunca se
acabar. Fé, louvores e preces ao Santo considerado Doutor da Igreja
permanece viva até hoje. Muitos anos de história, não se deixa
morrer, a família do Recanto encontrou neste santo motivo maior além
da devoção, do respeito e da tradição para venerá-lo, que é a
união da família. Continuar com a devoção a Santo Antônio
é respeitar os valores familiares: o amor e dedicação que a
família tem com religião católica que se encontra cravada nos
corações de todos e que há de ser passada para as novas gerações.
Mais de 100 anos já se passaram e muitos outros irão passar e de
uma coisa temos certeza a devoção a Santo Antônio
da Fazenda Recanto nunca irá se acaba.
Por: Fernanda Carneiro
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