domingo, 15 de junho de 2014

HISTÓRIA DA DEVOÇÃO A SANTO ANTONIO DA FAZENDA RECANTO


Na Fazenda Recanto, localizada no Município de Ichu, surgiu uma devoção a um dos santos mais populares do Brasil: Santo Antônio de Pádua. Esta devoção já perpassou por várias gerações e continua viva na família de Maria José e Hildebrando.
Por não conter registro escrito esta história foi baseada na memória de pessoas que viveram esta devoção. Calcula-se que esta devoção vem acontecendo desde de 1880, lembrança relata por Maria de Padre.
Foi o senhor Antônio Verício que começou a devoção na Fazenda Recanto, após seu falecimento seu filho Antônio Timóteo continuou a celebrar a trezena na mesma fazenda. Por volta da década de 60 a trezena passou para as mãos da sua filha senhora Francisca Domingas Carneiro, conhecida como Chiquinha do Recanto e seu esposo Manuel Nascimento conhecido como Manezinho do Recanto. Estes, tinham 4 filhos: Primitivo, Josefa, João e Joana. Esta família continuou a louvar Santo Antônio que lhe trouxe bençãos e alegrias.
As noites das rezas eram muito animadas, onde reuniam todos da comunidade e da vizinhança para bendizer e glorificar Santo Antônio. Após, a reza as pessoas se animavam na fogueira, cantavam cantigas de roda. O último dia, começava com fogos soltados pela manhã, ao meio-dia e a noite, e a família com vizinhos e amigos preparavam a noite festiva com muito entusiasmo. Cada pessoa tinha sua obrigação os homens amarravam os foguetes nas flechas feito pelo senhor Anatanael e seu filho Odilon, da Lagoa do Meio, as mulheres Dona Nascimenta, tomava conta do café, Dona Libânia limpava terreiros, prepara o carneiro para o almoço e bolos, mas não podia faltar o tradicional bolo de milho feito por Dona Romana Alegre, da Fazenda Flor Roxa. Os altares eram todos os anos arrumados com flores de papel feito por Luzia Marcelina Carneiro, neta de Manezinho do Recanto, segundo ela passava meses fazendo flores de papel crepom para a arrumação do altar e as flores mais bonitas eram cuidadosamente guardadas para o ultimo dia da trezena. Manezinho do Recanto, reservava um boi para as despesas das noites de rezas. Cada noite de reza tinha uma família responsável que era chamada mordomo. Na ultima noite havia leilão dos objetos e animais doados em benefício da trezena, após o leilão todos se reuniam para apreciar a tradicional queima de fogos chegando a cerca de 60 dúzias de foguetes, soltados por Manuel de Acelino, Rosalvo seu irmão, Cosme do canto Alto, Nito do Consolo, Primitivo, Manezinho do Recanto e outros o céu brilhava como estrelas irradiando alegria e a devoção do povo católico do Recanto. Que maravilha!
No ano de 1976, a senhora Chiquinha do Recanto faleceu e seu esposo Manezinho do Recanto, passou a morar com seu filho Primitivo que já estava casado com Josefina Carneiro, filha João Padre. Ficou para este casal a responsabilidade da devoção das trezenas, agora na Fazenda Massapê, onde o casal morava juntamente com seus 07 filhos: Mariquita, João Napununceno, Pedro, Bernadete, Mercês, Antônio (este falecido em 2008) e Maria José.
Toda a família reunida com laços de estima e união louvavam a Santo Antônio. As rezas eram celebradas todas as noites do dia 01 de junho ao dia 13, dia dedicado ao Santo. O local das rezas tinha dois altares um de frente a entrada da sala que foi trazido da Fazenda Recanto e outro do lado esquerdo feito pelo senhor Primitivo, que já rezava a trezena em intenção a seu filho que se chamava Antônio. Os altares eram arrumados com muito carinho e dedicação e as trezenas eram celebradas com muita alegria onde toda a família se reunia com pessoas da comunidade para rezar e glorificar Santo Antônio. Assim, a devoção permaneceu firme e forte na mesma fé e não deixando morrer a tão bela tradição.
No ano de 1979, Manezinho do Recanto faleceu. A família de Primitivo foi crescendo seus filhos se casaram e passaram a morar perto da fazenda Massapê ou na cidade de Ichu, mas, durante os dias de rezas estavam todos sempre reunidos com seus filhos e amigos. Estes, antes e depois das rezas cantavam cantigas de roda, brincavam no terreiro animando as noites. A devoção continuou perseverante e fiel a tradição antiga. Para as despesas da festa as doações continuavam e foi acrescentado uma poupança para garantir os festejos, na ultima noite não faltava o tradicional leilão, bolo, brincadeiras, fogueira e o café na panela para que todos fossem servidos fartamente.
Na década de 80, Primitivo veio morar na cidade de Ichu com sua esposa. Sua sua filha Maria José continuou morando na Fazenda Massapê com sua família, embora, todos os anos no período da trezena Primitivo e Josefina se mudavam para o Massapê a fim de continuar sua tão querida devoção.
Assim, se passaram muitos anos, mas em 1993 Josefina Carneiro, faleceu porém, ficou a certeza e a esperança de que a devoção não iria se acaba. Nesta atitude de respeito a tradição e a Santo Antônio as trezenas continuaram, agora sobre a responsabilidade de Primitivo e de sua filha Maria José.
Em 1993, sobre o desejo do senhor Primitivo foi construída uma capela na Fazenda e fui para lá que se destinou as rezas em louvor a Santo Antônio e as missas da comunidade.

No ano de 2004, Primitivo morreu, mas, como diz a frase do Papa João Paulo II “a família que reza unida, permanece unida” e o forte laços de amor que se criou a devoção de Santo Antônio não acabou ai, ela continuou com sua filha Maria José e seu esposo Hildebrando já pertencente a quinta geração. Hoje, a família de Maria José mora na cidade de Ichu e o Recanto se transferiu para aqui na sua casa, não perdendo o calor da devoção, a união familiar acontece todas as noites a trezena com a certeza de nunca se acabar. Fé, louvores e preces ao Santo considerado Doutor da Igreja permanece viva até hoje. Muitos anos de história, não se deixa morrer, a família do Recanto encontrou neste santo motivo maior além da devoção, do respeito e da tradição para venerá-lo, que é a união da família. Continuar com a devoção a Santo Antônio é respeitar os valores familiares: o amor e dedicação que a família tem com religião católica que se encontra cravada nos corações de todos e que há de ser passada para as novas gerações. Mais de 100 anos já se passaram e muitos outros irão passar e de uma coisa temos certeza a devoção a Santo Antônio da Fazenda Recanto nunca irá se acaba. 

Por: Fernanda Carneiro

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